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domingo, 15 de janeiro de 2012

500 - O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS (EM EXIBIÇÃO)

É um filme de espionagem, mas não espere smokings, armas sofisticadas, garotas fatais ou qualquer sinal de glamour. "O Espião que Sabia Demais", que estreia nesta sexta-feira (13) no Brasil, retrata o universo do MI6, serviço secreto britânico (o mesmo de James Bond), sem romantismo – o que nem de longe é um defeito.
Situada na década de 1970, a trama baseada no romance de John le Carré (mesmo autor de "O Jardineiro Fiel", filmado por Fernando Meirelles) utiliza o clima de ar rarefeito imposto pela Guerra Fria para criar o que um filme com espiões deveria ter como princípio: mistério e suspense constante.


O herói da história já deixa claro que não se trata das fantasias popularizadas por Ian Fleming, criador do 007. George Smiley (Gary Oldman) é um agente de meia-idade, cabelos grisalhos e de poucas palavras, desprovido de charme ou encantamento. Para quem precisa viver à margem, anônimo, nada mais funcional.


Após uma missão desastrosa na Hungria, Control (John Hurt), o chefe do MI6, chamado aqui de Circo, é aposentado compulsoriamente e leva Smiley junto para o ostracismo. A suspeita de que há um agente duplo soviético na cúpula da inteligência britânica, no entanto, faz com que Smiley volte à ativa para descobrir o traidor, ou seja, espiar os espiões. Ao seu lado, está o agente interpretado por Benedict Cumberbatch, que, apesar de famoso como Sherlock Holmes na série contemporânea da BBC, faz agora as vezes de Watson.


O elenco impecável de suspeitos é formado por Colin Firth, Toby Jones, Ciarán Hinds e David Dencik, alvo dos codinomes do título original em inglês ("Tinker Tailor Soldier Spy"). Os quatro são os pilares de uma rede ardilosa da qual também fazem parte os agentes vividos por Mark Strong e Tom Hardy (vilão do novo "Batman"). Em jogo, buscar a identidade do culpado, eficaz desde sempre, de "O Caso dos Dez Negrinhos" a "Os Suspeitos".


Só que "O Espião que Sabia Demais" não tem nada de trivial, a começar pela ambientação. Os anos 1970 na Inglaterra aparecem na tela de modo asfixiante, em seus escritórios com jeito de repartição pública, saias e ternos de tweed, manhãs frias e cores esmaecidas.


No seu primeiro trabalho em inglês, o diretor sueco Tomas Alfredson, do celebrado filme de vampiro "Deixa Ela Entrar", mostra desde aí seu completo domínio da mise en scène, expresso no rigor e na criatividade com que a câmera passeia pelo cenário (atenção para o olhar de dentro do elevador de documentos, que flagra as entranhas do serviço secreto).


O cineasta já havia mostrado em "Deixa Ela Entrar" seu talento para criar tensão sem pirotecnia, e ele aparece novamente. Cumberbatch encabeça uma sequência modelo, quando desce aos arquivos do MI6 para tentar surrupiar documentos secretos. Suspense de primeira, de fazer suar e escorregar para a pontinha da poltrona.


Alfredson ainda prova que não precisa nem de diálogos para emocionar – o desfecho, brilhante, é conduzido apenas ao som de "La Mer", clássico da chanson française, na voz de Julio Iglesias.
Mas os méritos não são todos do diretor. Não dá para esquecer o roteiro do casal Peter Straughan ("Os Homens que Encaravam Cabras") e Bridget O'Connor (que morreu de câncer antes da estreia), que transpôs a complexa ação do livro, narrada como se fossem memórias do agente Smiley, para o tempo presente. O resultado, acertado, usa o flashback com parcimônia e eficiência.

A outra força-motriz de "O Espião" é Gary Oldman, em um de seus melhores papéis. George Smiley protagoniza alguns best-sellers de John le Carré e já foi interpretado diversas vezes – aparece, por exemplo, em "O Espião que Veio do Frio" (65) e na adaptação anterior de "O Espião que Sabia Demais", uma minissérie inglesa de 1979. Essa é justamente sua versão mais famosa e idolatrada pelos britânicos, que viam o Smiley de Alec Guinness (o Obi-Wan Kenobi) como imbatível.


Eles não contavam com Oldman. O ator consegue minimizar sua performance a ponto de sumir atrás da armação dos óculos. Sobram os olhos atentos, a expressão corporal, uma insignificância que esconde genialidade e uma dor profunda: Smiley sofre com a separação da mulher e por ter deixado escapar Karla, codinome do espião-chefe soviético. O rosto dos dois, aliás, não é mostrado em nenhum momento, numa jogada de mestre.


Esnobado pelo Globo de Ouro e com uma campanha forte para figurar entre os indicados ao Oscar 2012, "O Espião que Sabia Demais" usa peças de xadrez para ilustrar a astúcia que permeia toda a história. O xadrez é elegante como o filme, mas um jogo de cartas repleto de blefes seria ainda mais apropriado. Porque por baixo das camadas com linguagem em código e do punhado de personagens que lotam a trama, sobressai-se a traição. Traição à pátria, à amizade, a uma causa, ao amor. Um mundo traiçoeiro, em que não se pode confiar em ninguém. Mas isso não é exatamente do que trata um filme de espionagem? "O Espião que Sabia Demais" é exemplar.

Ficha do Filme (do UOL)

Título original: Tinker, Tailor, Soldier, Spy
Diretor: Tomas Alfredson
Elenco: Tom Hardy, Gary Oldman, Mark Strong, Benedict Cumberbatch, Colin Firth, John Hurt Gênero: Drama, Mistério, Suspense
Duração: 127 min.
Ano: 2011
Data da Estreia: 13/01/2012
Cor: Colorido
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
 
 
Entrevista: Gary Oldman volta às sombras em "O Espião Que Sabia Demais"


Gary Oldman estrelou alguns dos maiores sucessos de bilheterias dos últimos tempos, incluindo as franquias "Harry Potter" e "Batman", de Christopher Nolan. Mas Oldman construiu sua carreira interpretando alguns personagens sombrios, como Sid Vicious, Lee Harvey Oswald e Drácula, para citar alguns.
Com o seu novo filme "O Espião Que Sabia Demais", que chega aos cinemas norte-americanos na sexta-feira, o ator volta aos cenários sombrios para interpretar o bem-educado, mas durão, espião George Smiley neste emocionante conto da Guerra Fria sobre espiões britânicos e russos e traidores, baseado no famoso romance de John le Carré.
Oldman conversou com a Reuters sobre o filme, o seu papel e a sua carreira em constante mudança.

Reuters: Esta foi uma boa mudança de ritmo para você.
Gary Oldman: Totalmente, e isso foi parte do apelo. Eu estava obviamente familiarizado com o filme e com Smiley antes de receber a proposta... mas é um pouco como um ator receber o convite para fazer Hamlet ou Lear. Você já sabe o papel.

Reuters: Então, não tem medo de interpretá-lo?


Gary Oldman: Não, tenho muito medo. Pensei duas vezes - mais que duas vezes - sobre o assunto. Os dragões estão em sua cabeça, não? Mas você tem que matá-los, e ele foi o meu tipo de inimigo. Uma vez que nós começamos, ele se tornou um pouco de um guia espiritual. Talvez ele estivesse olhando por cima do meu ombro.

Reuters: Quanto de Gary Oldman está em George Smiley?


Gary Oldman: Ele tem essa relação muito incomum, inadequada e masoquista com sua esposa. Há um pouco da vítima em George, já que ela está sempre fora tendo casos, e ele parece sempre aceitar ela e essa situação. Você fica com a sensação de que ele a tem de volta e eles não discutem. Ele a ama muito. Então você vai para a fonte da experiência quando você interpreta alguém como Smiley. Todos nós estamos lá, de uma forma ou de outra.
Reuters: Você fez muita pesquisa?
Gary Oldman: Eu não fiz muita coisa além do livro e do roteiro, porque nós também tivemos acesso a Le Carré, então eu falei com ele... Ele estava no MI5 (agência de inteligência britânica), e eu peguei pequenos detalhes de seu cérebro. Ele tinha todas essas grandes histórias.

Reuters: O filme foi dirigido por um sueco, Tomas Alfredson. Parece uma escolha improvável para um projeto britânico como este?


Gary Oldman: Sobre o papel, sim, mas havia alguns diretores britânicos que não iriam topar. O livro, e as séries de TV, eram considerados um Santo Graal que você não deve mexer. Então, as pessoas tinham medo de chegar perto dele, e Tomas foi atrás e fez um trabalho fantástico. Não é tudo sentimental, o que poderia ter acontecido com um diretor britânico cheio de reverências a ele.


Reuters: No próximo ano você estará de volta no filme de Christopher Nolan, "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge". O que os fãs podem esperar?


Gary Oldman: Uma história fantástica e uma grande conclusão da trilogia. É verdadeiramente épico... Eu acho que Nolan se superou aqui.


Reuters: Você também fará Elvis em "Guns, Girls, Gambling" no ano que vem?
Gary Oldman: Sim, é um pouco alternativo e eu sou um imitador do Elvis - não muito bom. Eu sou o Elvis mais velho, no macacão branco.


Reuters: Você também não está interpretando Merlin no novo "Arthur e Lancelot"?


Gary Oldman: Não, há rumores. Estamos falando sobre isso. Tecnicamente, estou fora do trabalho neste momento.



Fonte:
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/o-espiao-que-sabia-demais-tem-misterio-e-suspense-na-dose-certa/n1597569508750.html
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/gary-oldman-volta-as-sombras-em-o-espiao-que-sabia-demais/n1597402863722.html
http://cinema.uol.com.br/filmes/2011/o-espiao-que-sabia-demais.jhtm

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