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sábado, 16 de julho de 2011

353 - CASAGRANDE, WILZA CARLA E A SOLIDÃO

Artigo de autoria de Carlos Sena: csena51@hotmail.com, (publicado no Recanto das Letras em 10/07/2011 – código do texto: T3087305




CASAGRANDE, WILZA CARLA E A SOLIDÃO.


O Domingão do Faustão, algumas vezes acerta. Hoje, dissecou o comentarista CASAGRANDE em sua difícil fase de recuperação como dependente químico de cocaína. O “Casa”, como é carinhosamente chamado por muitos se diluiu em lágrimas. Expôs sua fragilidade, assumiu que foi vencido pelas drogas. Reconheceu que tirou apenas um pé do buraco, mas há outro que tem que ser retirado no dia-a-dia. Foi “réu confesso” de si mesmo. Pelo que vimos, ficou claro que se separou da mulher por conta das drogas, mas a família e, principalmente o filho mais velho, foram determinantes na sua retomada da vida, antes que o fundo do posso fosse definitivamente alcançado. Faustão cutucou tudo, ao seu jeito meio intrometido, mas cheio das melhores intenções no sentido de divulgar tão rico depoimento sobre dependência química às milhares de famílias brasileiras. Às pessoas que viram a entrevista e estiverem com problemas de drogas semelhantes em casa, não sabemos se, de fato ajudará.

Do meu canto, fiquei raciocinando em cima exatamente do que não foi perguntado pelo apresentador. Nem foi dito pelos pais nem pelos filhos nem pelos colegas da Globo. Casagrande, jogador famoso com passagens pelos melhores times do Brasil e do mundo, ao que tudo indica, entrou em CRISE EXISTENCIAL SÉRIA. Aos trinta e um anos deixou o futebol e, milionário, talvez tenha se perdido em si mesmo. Convidado pela Globo, há quatorze anos é comentarista esportivo ao lado de Galvão Bueno e... De novo ele: salário alto, prestígio de jogador e depois de excelente comentarista! Tudo que a grande maioria de simples mortais certamente gostaria de alcançar, mas ele... Reticência passou a fazer parte da sua vida! Dinheiro, prestígio, filhos, família estruturada, mulheres (certamente), mas sem ele mesmo consigo – essa é a idéia que ficou nas entrelinhas. Talvez seja essa situação a responsável pela grande maioria de casos de dependência química. Uns ficam assim por excesso de dinheiro, de prestígio, pela impressão de que tudo foi conseguido; outros pela falta do dinheiro, pela falta do prestígio e pela certeza de que nada será conseguido na vida; outros pelos diversos motivos que norteiam os mistérios existenciais dos que, fracos, enveredam no mundo das drogas.

Casagrande não falou da esposa. Tudo indica que mora com o filho mais velho, ou seja, sua área afetiva certamente está comprometida pelas drogas. À sua serventia, três psicólogas e uma psiquiatra. Afinal, o dinheiro estava lhe devolvendo a vida, pela forma avessa, mas importante. Certamente um drogado liso, pobre, morreria mais cedo. Casagrande sabe que se não tivesse muito dinheiro no banco já estaria morto como tantos. São uma fortuna os internamentos em clínicas especializadas e, não menos fortuna, os tratamentos paralelos que se fazem necessários.

Diante do que vimos emocionados, restou-nos algumas perguntas:

a) Por que o dinheiro cega tanto as pessoas?

b) Por que a grande maioria de famosos ricos geralmente recorre às drogas?

c) Por que não se aprende na escola que dinheiro não compra felicidade?

d) Não haverá na maioria dos drogados falta de Deus?

e) Será que o mundo moderno não se perdeu em si mesmo diante das drogas?

f) Será que virar rico do dia pra noite não tira dos ídolos o sentido da vida?

g) Será que a família não falhou na orientação da maioria dos dependentes químicos?

Tudo pode ser e acontecer, inclusive nada. A droga há pouco tempo foi vista pelos lideres do mundo, inclusive pelo nosso ex-presidente FHC, como um problema insolúvel. “O mundo perdeu a luta contra as drogas”, disseram todos. Insisto mesmo que creio nessa derrota do mundo moderno contra as drogas. Mas insisto em que as famílias que mantiveram seus filhos na “rédea curta” dos limites, em sua maioria, não têm esse tipo de problemas. Se fizermos uma pesquisa, não será difícil confirmar as seguintes hipóteses: a) “Os atuais cidadãos que beiram os sessenta anos, dificilmente são dependentes químicos de drogas?”; b) “O atual modelo de escola e educação vigentes – permissivos em sua pedagogia, não teriam falhado, junto com os pais, na disseminação de valores mais sólidos aos jovens”?

Julgamentos a parte, fato é que Faustão acertou ao mostrar o CASAGRANDE em processo de recuperação. O ponto alto de sua fala foi quando se emocionou com o filho mais novo dizendo que queria voltar a ter o pai como amigo. Mas esta tarefa seria o próprio pai quem tinha que executar. O filho se declarou enganado pelo próprio pai que dizia a ele todo dia que tivesse cuidado com as drogas, ou seja, o pai usava o velho ditado popular do “faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço”...

De tudo que vimos e sabemos, fica a lição que nem sempre aprendemos de cor. Afinal, ser famoso a esse preço vale a pena? O que vale a pena mesmo é ser feliz com os valores que cada um estabeleça pra si, pois os da sociedade de consumo só levam pro buraco; para a despersonalização do ser humano; para a angÚstia, para a solidão, mesmo com a conta bancária recheada de Euros, Reais e Dólares!

Neste contexto, reflitamos num outro viés: Wilza Carla morreu pobre, sozinha, diabética, feia, velha, um “trapo humano”, como costumamos dizer. Em torno de dez pessoas foram ao seu enterro. Ironia de quem um dia foi famosidade, freqüentou os salões presidenciais, teve os homens mais belos e ricos do Brasil aos seus pés... Quando chegava às cidades, os aeroportos lotavam para vê-la. Agora só nos compete refletir: o que fez com o dinheiro que ganhou? Será que ela não imaginava que glamour tem prazo de validade?

CASAGRANDE desceu à senzala das drogas. WILZA CARLA desceu às drogas sem senzala: drogas para hipertensão, drogas para diabetes, drogas para a pobreza! Mas a droga comum a ambos é a mais devastadora do mundo: A SOLIDÃO.

Artigo de autoria de Carlos Sena: csena51@hotmail.com, (publicado no Recanto das Letras em 10/07/2011 – código do texto: T3087305

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