Dizer que o Oxí tá bombando, que é a preferida dos usuários é bobagem. Não precisa dizer nada. O Oxí já representa mais de 80% das drogas apreendidas no Estado do Pará. E, no entanto, os efeitos desta porcaria são mais danosos que o da maconha.
"O oxi hoje já responde por cerca de 80% das apreensões de drogas aqui no Pará. Definitivamente essa é a droga da moda aqui na nossa região", afirma o chefe da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil do Pará, Ivanildo Santos.
O Oxí é uma droga muito barata e o seu consumo tende a crescer a cada dia, principalmente por falta de uma política de saúde pública capaz de atender os usuários de drogas.
"É mesmo uma epidemia, uma questão de saúde pública". Só falta existir este tratamento, mas, não existe.
"Algumas semanas atrás, eu apreendi uma carga de mais de 20 quilos de oxi aqui em Belém, com traficantes fortemente armados", diz o delegado Eder Mauro, policial conhecido por perseguir duramente os traficantes da região.
Nas ruas de Belém, no Pará, é comum sentir o cheiro de plástico queimado e combustível que emana dos grupos de usuários da droga.
"A vida na rua é difícil. Eu tenho que correr atrás de dinheiro todos os dias para drogas ou eu não durmo", disse um usuário de oxi à BBC Brasil, entre um trago e outro.
"(Se eu não usar a droga) Fico agoniado. Quando vejo a pedra (de oxi) acabando, já começo a pensar como fazer para conseguir mais."
A porcaria, quer dizer, o oxi é feito com a mesma pasta de cocaína usada para fazer o crack. No entanto, ela é misturada com produtos químicos mais baratos, como cal virgem e querosene ou gasolina. Por isso, é mais tóxica ao organismo.
No Centro Nova Vida de reabilitação de dependentes químicos, são frequentes as histórias sobre vidas e famílias destruídas pela droga, já bastante conhecida entre os pacientes.
O presidente da ONG, Luiz Veiga, diz que cerca de 80% dos 30 residentes já usaram oxi.
"É uma droga terrível. Ela tem produtos químicos extremamente prejudiciais a todos os órgãos, a começar pelo fígado", diz Veiga. "Os usuários também chegam aqui com graves problemas mentais, como delírios e mania de perseguição."
Veiga também usou drogas por 28 anos - ele perdeu sua corretora imobiliária e viveu nas ruas por mais de uma década, antes que um ex-funcionário de sua empresa o resgatasse. Há 21 anos, ele está livre do vício e, há 18, fundou o Centro Nova Vida.
"As ruas estão ainda piores hoje do que eram no meu tempo. Há mais violência e novas drogas mais nocivas, como esse oxi", diz ele.
Reabilitação
Todos os pacientes no Centro Nova vida estão em reabilitação voluntária, e a maioria não paga pelo tratamento.
Como estão ali para se reconciliar com o passado, os residentes contam suas histórias de maneira aberta e com os detalhes mais chocantes - desde que suas identidades sejam preservadas.
"Eu era da Polícia Militar, mas fui reformado (aposentado) porque meus superiores pensavam que eu era louco. Só que foi o consumo de drogas", diz um homem de cerca de 40 anos de idade.
Ele afirma que vendeu tudo que tinha em casa e começou a traficar drogas para pagar por seu vício. "Eu perdi minha família. Minha esposa me abandonou, meus filhos foram embora e apenas os traficantes de drogas estavam interessados em mim."
Não demorou muito para que o ex-policial se tornasse um criminoso. 'Eu estava roubando e praticando assassinatos por encomenda para traficantes', diz ele.
Agora o ex-policial conta que está limpo há dois meses e mantém esperança de construir uma nova vida. "Espero que minha família me aceite de volta, mas eu não posso ter certeza. Eu os fiz sofrer muito."
Um estudante de 17 anos que também está no centro diz que começou a usar oxi e outras drogas aos 12 anos. 'O oxi foi a droga mais forte que eu usei, bem mais do que o crack. Fiquei viciado muito rápido e logo eu estava fazendo qualquer coisa para conseguir droga. '
Apesar de ainda não ser maior, o rapaz já ficou detido por dois anos por roubo. E os tribunais nunca chegaram a saber dos assassinatos que ele diz ter cometido.
"Eu tinha dívidas enormes com um traficante. Ele me mandou matar um de seus rivais ou ele ia me matar", conta. "Fui para a viela onde vivia o alvo e comecei a atirar. Matei pelo menos duas pessoas, mas talvez mais."
O adolescente - que terminou recentemente o programa de quatro meses reabilitação - está agora de volta para a escola e com a esperança de recomeçar a vida.
"Eu me arrependo muito da maneira como eu perdi a minha vida com as drogas. E me entristece ver que o oxi está agora se espalhando por todo o país."
Aonde há maior exclusão social, maior a possibilidade de proliferação do oxí. Se não há políticas públicas para uma maior atenção aos usuários de drogas que, como relatado acima, é caso, também de polícia, não dá para imaginar de forma positiva que este quadro, no curto prazo, pelo menos, tende a diminuir. O oxí aumenta as estatísticas da violência e nada é feita para conscientizar o cidadão que, usar droga é meio caminho para a morte.
Agora, parece que a solução para os governos (do mundo) é, simplesmente discriminalizar os usuários. Se o problema é de saúde pública, então, briguemos por melhor qualidade nos atendimentos de saúde, principalmente, nos casos para os usuários de drogas. Não dá para inverter a lógica das coisas como querem algumas cabeças iluminadas (sem luz própria, é claro).
Por mais políticas de saúde pública para todos!
Este texto foi elaborado com base no artigo do UOL, constante no endereço: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/06/oxi-ja-corresponde-a-80-das-apreensoes-de-drogas-no-para.html
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