Um
problema da atualidade é a visão parcial das coisas, respostas e soluções são
dadas com o mínimo de informação e segurança necessárias. Constantemente vemos
respostas rápidas, pessoas que assinam documentos sem lê-los e quase sempre sem
ouvir corretamente o que foi perguntado, ou, saber o que está escrito.
Naturalmente, também acontecem nas nossas escolas com os nossos alunos e em
todos os lugares. Alguém sabe de algum caso?
Não
podemos conviver com a tese do “achômetro” e do condicionamento mental que leva
as pessoas a apresentar soluções equivocadas. O saber conceituado parece que
está indo para o setor privado e cercado por muros, tornando inacessível para
todos, apenas para alguns. E o povo vivendo com problemas de toda a natureza e
sem saída.
A
vida é dinâmica e em constante transformação. A realidade se apresenta de modo diferente à todo momento e a educação precisa capacitar o estudante para uma mente mais
flexível, como forma de renovar seus conhecimentos e acompanhar estas importantes mudanças.
Viver neste cenário requer lidar com alternativas e buscar respostas novas,
olhar com maior profundidade tudo que o cerca. Eu sempre digo que existem os
dois lados da moeda e todos eles precisam da nossa atenção. O homem moderno
precisa desenvolver o seu raciocínio lógico, precisa ser dotado a pensar em
alternativas possíveis para os seus problemas. Ninguém precisa tomar uma
decisão precipitada. Responder sem condições de analisar qual é o verdadeiro
problema. Eu estou falando sobre xadrez, quer dizer, sobre a nossa vida, sobre
o nosso comportamento diante desta realidade em constante mutação. Não é verdade? Precisamos quebrar o “achômetro”. Ele não
serve para nada, nem para mim e nem para você.
Em
algumas situações parece que não há saídas. O homem sente-se encurralado e não
consegue pensar numa solução, apenas no problema, perdendo um tempo precioso. É
preciso ver o problema a partir de sua origem. Vemos isso no tabuleiro de
xadrez e sempre analisamos todas as possibilidades de solução e muitas vezes encontramos as saídas. Mas, infelizmente, no Brasil, para ser resolver um
problema (por nossos governantes) outro é criado e ainda maior que o anterior.
Múltiplas possibilidades precisam ser consideradas diante de cada problema.
Essa bem que poderia ser a primeira diretriz (princípio) que deveríamos passar para nossos
filhos e alunos. Isso resolveria o problema das verdades únicas que afloram
mundo afora. Teríamos um jovem sempre questionador, sempre disposto a aceitar,
não apenas porque aquilo lhe é imposto, mas porque assim concluiu, depois de
analisar dentre todas as possibilidades que uma questão pode suscitar. Seguir
sem questionar é fácil, é o que quase todos nós fazemos vida afora, mas um
indivíduo só se torna questionador quando descobre que para cada questão há sempre
uma ou mais soluções.
Pode parecer simples, mas
normalmente só conseguimos encontrar uma solução, usando a lei do menor esforço e desprezamos os caminhos alternativos, que
também nos conduziriam a verdadeira melhor solução.
Uma visão mais ampla, quer dizer alguém que seja capaz de
enxergar, não apenas o problema (adversário, no caso do xadrez) que está diante
de si, mas também todo ambiente à sua volta, todos os demais protagonistas que
fazem parte da cena, todo o cenário onde se desenvolve a coisa, todas as
possíveis saídas. Fitando apenas o problema (adversário), nosso único
sentimento será de estar completamente encurralado. A visão geral da situação,
o que também inclui o problema nos permite fazer uma melhor avaliação, ampliando
o espectro de suas consequências, nos mostrará as opções das quais podemos
dispor para solucioná-lo, e podemos mesmo concluir que, pode nem haver um
problema; que o problema exista apenas devido à nossa visão limitada e restrita
do mesmo, porque não olhamos o todo, e sim apenas a parte que se nos apresenta
como um suposto problema.
Um jogador de Xadrez, tem diante de si problemas, situações
que se apresentam, de um modo inicial, como se não existisse solução. Mas eis
que ao erguer sua vista, ele pode vislumbrar mais adiante uma visão geral da
coisa. Ao ver o tabuleiro por inteiro, ele pode avaliar melhor o problema que
tem diante de si. Vê o problema, vê a origem do mesmo, vê o que tem em mãos
para tentar solucioná-lo, pode simular se as soluções que imagina terão o
efeito desejado, terá diante de si as consequências de cada decisão que resolva
tomar. Ele tem uma visão privilegiada da situação por inteiro. Pode
reconstituir todos seus passos, que o conduziram até aquele problema, e diante
dos fatos, pode finalmente aprender sobre os efeitos de falhas cometidas.
Saberá ainda como superar, no futuro ou no agora, cada dificuldade que se
apresente diante dele. Para se aprender de forma adequada, a atenção é sem
dúvida a qualidade mais importante. O jogo de Xadrez, se propõe a despertar em
primeiro lugar, entre seus praticantes, esse essencial estado que é a atenção,
o que os tornará observadores qualificados, mais cuidadosos com os detalhes,
mais criteriosos e capazes em suas decisões.
Sua visão se renova, seu modo de pensar se amplia, e terá a seu favor dois
fatores mais que importantes na solução de qualquer questão da vida; a lógica
que o ensinará a sistematizar e organizar uma questão antes de tentar
resolvê-la, e a versatilidade de uma mente aberta, que está sempre disposta a
experimentar as novas possibilidades, além daquelas já existentes, para solucionar
uma mesma questão. Na visão tradicional, temos diante de nós muitas soluções
prontas para antigos e novos problemas. Se as soluções nunca se renovassem estaríamos
um mundo perfeito, mas eles mudam de forma, e as antigas soluções estão sempre
atrás, se mostram obsoletas, incapazes de por um fim a coisa. Sendo orientado
para, a partir do todo se chegar à parte, o jovem praticante de Xadrez,
desenvolve a capacidade de antecipar situações possíveis de criar problemas.
Logo ele se torna mais capaz de solucionar problemas, não apenas os de natureza
lógica, mas de qualquer natureza.
Uma mente vigorosa, ativa e cheia de músculos mentais bem
desenvolvidos, é o benefício imediato de quem mentalmente articula muitos
caminhos e possibilidades para se chegar a um objetivo. É a mesma coisa de um
autor de ficção a criar uma trama onde, por exemplo, o personagem principal, ao
caminhar por uma estrada cheia de obstáculos, tivesse que tratar cada um, de
uma maneira sempre nova, o que não seria possível com uma mentalidade inflexível.
Nessa prática, devemos ainda ensinar, que o jogo apesar de ser uma competição,
não precisa tornar-se uma disputa, pois não deve existir perdedor ou vencedor,
se ambos, jogador e adversário estão aprendendo juntos. Acredito que o xadrez
desenvolve as capacidades acima mencionadas, dotando o seu fiel praticante de
encontrar mil alternativas para um único problema.
Francisco
Arnilson de Assis
Clube de Xadrez
Marabá
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