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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

EU APRENDI: PARA UM PROBLEMA HÁ MUITAS SAÍDAS


Um problema da atualidade é a visão parcial das coisas, respostas e soluções são dadas com o mínimo de informação e segurança necessárias. Constantemente vemos respostas rápidas, pessoas que assinam documentos sem lê-los e quase sempre sem ouvir corretamente o que foi perguntado, ou, saber o que está escrito. Naturalmente, também acontecem nas nossas escolas com os nossos alunos e em todos os lugares. Alguém sabe de algum caso?

Não podemos conviver com a tese do “achômetro” e do condicionamento mental que leva as pessoas a apresentar soluções equivocadas. O saber conceituado parece que está indo para o setor privado e cercado por muros, tornando inacessível para todos, apenas para alguns. E o povo vivendo com problemas de toda a natureza e sem saída.

A vida é dinâmica e em constante transformação. A realidade se apresenta de modo diferente à todo momento e a educação precisa capacitar o estudante para uma mente mais flexível, como forma de renovar seus conhecimentos e acompanhar estas importantes mudanças. Viver neste cenário requer lidar com alternativas e buscar respostas novas, olhar com maior profundidade tudo que o cerca. Eu sempre digo que existem os dois lados da moeda e todos eles precisam da nossa atenção. O homem moderno precisa desenvolver o seu raciocínio lógico, precisa ser dotado a pensar em alternativas possíveis para os seus problemas. Ninguém precisa tomar uma decisão precipitada. Responder sem condições de analisar qual é o verdadeiro problema. Eu estou falando sobre xadrez, quer dizer, sobre a nossa vida, sobre o nosso comportamento diante desta realidade em constante mutação. Não é verdade? Precisamos quebrar o “achômetro”. Ele não serve para nada, nem para mim e nem para você.

Em algumas situações parece que não há saídas. O homem sente-se encurralado e não consegue pensar numa solução, apenas no problema, perdendo um tempo precioso. É preciso ver o problema a partir de sua origem. Vemos isso no tabuleiro de xadrez e sempre analisamos todas as possibilidades de solução e muitas vezes encontramos as saídas. Mas, infelizmente, no Brasil, para ser resolver um problema (por nossos governantes) outro é criado e ainda maior que o anterior.


Múltiplas possibilidades precisam ser consideradas diante de cada problema. Essa bem que poderia ser a primeira diretriz (princípio) que deveríamos passar para nossos filhos e alunos. Isso resolveria o problema das verdades únicas que afloram mundo afora. Teríamos um jovem sempre questionador, sempre disposto a aceitar, não apenas porque aquilo lhe é imposto, mas porque assim concluiu, depois de analisar dentre todas as possibilidades que uma questão pode suscitar. Seguir sem questionar é fácil, é o que quase todos nós fazemos vida afora, mas um indivíduo só se torna questionador quando descobre que para cada questão há sempre uma ou mais soluções.

Pode parecer simples, mas normalmente só conseguimos encontrar uma solução, usando a lei do menor esforço e desprezamos os caminhos alternativos, que também nos conduziriam a verdadeira melhor solução.

Uma visão mais ampla, quer dizer alguém que seja capaz de enxergar, não apenas o problema (adversário, no caso do xadrez) que está diante de si, mas também todo ambiente à sua volta, todos os demais protagonistas que fazem parte da cena, todo o cenário onde se desenvolve a coisa, todas as possíveis saídas. Fitando apenas o problema (adversário), nosso único sentimento será de estar completamente encurralado. A visão geral da situação, o que também inclui o problema nos permite fazer uma melhor avaliação, ampliando o espectro de suas consequências, nos mostrará as opções das quais podemos dispor para solucioná-lo, e podemos mesmo concluir que, pode nem haver um problema; que o problema exista apenas devido à nossa visão limitada e restrita do mesmo, porque não olhamos o todo, e sim apenas a parte que se nos apresenta como um suposto problema.

Um jogador de Xadrez, tem diante de si problemas, situações que se apresentam, de um modo inicial, como se não existisse solução. Mas eis que ao erguer sua vista, ele pode vislumbrar mais adiante uma visão geral da coisa. Ao ver o tabuleiro por inteiro, ele pode avaliar melhor o problema que tem diante de si. Vê o problema, vê a origem do mesmo, vê o que tem em mãos para tentar solucioná-lo, pode simular se as soluções que imagina terão o efeito desejado, terá diante de si as consequências de cada decisão que resolva tomar. Ele tem uma visão privilegiada da situação por inteiro. Pode reconstituir todos seus passos, que o conduziram até aquele problema, e diante dos fatos, pode finalmente aprender sobre os efeitos de falhas cometidas. Saberá ainda como superar, no futuro ou no agora, cada dificuldade que se apresente diante dele. Para se aprender de forma adequada, a atenção é sem dúvida a qualidade mais importante. O jogo de Xadrez, se propõe a despertar em primeiro lugar, entre seus praticantes, esse essencial estado que é a atenção, o que os tornará observadores qualificados, mais cuidadosos com os detalhes, mais criteriosos e capazes em suas decisões.

Sua visão se renova, seu modo de pensar se amplia, e terá a seu favor dois fatores mais que importantes na solução de qualquer questão da vida; a lógica que o ensinará a sistematizar e organizar uma questão antes de tentar resolvê-la, e a versatilidade de uma mente aberta, que está sempre disposta a experimentar as novas possibilidades, além daquelas já existentes, para solucionar uma mesma questão. Na visão tradicional, temos diante de nós muitas soluções prontas para antigos e novos problemas. Se as soluções nunca se renovassem estaríamos um mundo perfeito, mas eles mudam de forma, e as antigas soluções estão sempre atrás, se mostram obsoletas, incapazes de por um fim a coisa. Sendo orientado para, a partir do todo se chegar à parte, o jovem praticante de Xadrez, desenvolve a capacidade de antecipar situações possíveis de criar problemas. Logo ele se torna mais capaz de solucionar problemas, não apenas os de natureza lógica, mas de qualquer natureza.

Uma mente vigorosa, ativa e cheia de músculos mentais bem desenvolvidos, é o benefício imediato de quem mentalmente articula muitos caminhos e possibilidades para se chegar a um objetivo. É a mesma coisa de um autor de ficção a criar uma trama onde, por exemplo, o personagem principal, ao caminhar por uma estrada cheia de obstáculos, tivesse que tratar cada um, de uma maneira sempre nova, o que não seria possível com uma mentalidade inflexível. Nessa prática, devemos ainda ensinar, que o jogo apesar de ser uma competição, não precisa tornar-se uma disputa, pois não deve existir perdedor ou vencedor, se ambos, jogador e adversário estão aprendendo juntos. Acredito que o xadrez desenvolve as capacidades acima mencionadas, dotando o seu fiel praticante de encontrar mil alternativas para um único problema.

Francisco Arnilson de Assis
Clube de Xadrez Marabá

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