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quarta-feira, 15 de julho de 2015

Arllyn - Uma história real

 
 
A história desse garoto algumas pessoas conhecem. Iniciamos um projeto novo, assumimos o compromisso de ensinar xadrez na praça e conseguimos juntar um grupo de 10 pessoas entre eles o Arllyn, filho único, mãe separada que dividia seu tempo entre o trabalho e a educação do garoto.

Filhos únicos e de pais separados parecem ter algo em comum, a rebeldia. Mas, ele sempre aparecia para aquelas aulas em local inapropriado, na praça barulhenta e eram constantes as interrupções.

Aquele projeto, do xadrez na praça fora ideia de um amigo do Clube de Xadrez que nunca apareceu no horário marcado para as aulas, me deixava na mão e quando aparecia por volta das 17 horas, sorvete na mão A aula já havia encerrado.

E aquele grupo era diferente. Participava uma garota da Igreja de Cristo, que foi proibida de participar por um pastor. Havia pelo menos dois flanelinhas usuários de drogas. Um dos flanelinhas era uma menina de 13 anos que enquanto estava no projeto não usava drogas, mas, mesmo com pouca idade já havia praticado aborto.

Foi tirada uma foto e saiu no jornal e lá estava a menininha de rua, usuária de drogas e os demais garotos. Ficou bem legal a matéria no jornal. 
Esse garoto não era fácil e aprendia lentamente e perguntava muito, ansioso, cometia muitos erros e queria vencer rapidamente, mandava seu adversário jogar mais rápido. Todos os sábados ele era o primeiro a chegar e tinha o compromisso do catecismo na igreja, daí ele não faltava. Sempre havia algum conflito com alguém. Mesmo assim as aulas aconteciam normalmente. Um dia chegou na praça, antes dos garotos um pastor americano e pertencia a igreja de Cristo, jogamos uma partida para passar o tempo, venci o americano e de quebra ele deixou uma pequena contribuição financeira em apoio ao projeto.

O Arllyn conseguiu aprender a jogar e costumava se exceder quando vencia, mas, maior era a frustração quando perdia e isso é que era importante, por mudar o seu comportamento.

Fiquei sabendo muito sobre a sua vida. Era amigo da mãe dele e ia visita-lo de vez e quando. Como a mãe trabalhava o garoto tinha algumas tarefas domésticas como varrer a casa, lavar a louça entre outras. Quando não havia aulas na escola ficava em casa sozinho muito contrariado.

O caso dele, ser filho único, desprezado e ignorado pelo pai não era uma das causas de sua revolta. Ele com toda a impulsividade gostava e estudava xadrez em casa, mas os compromissos escolares, as tarefas domésticas e os ensaios da primeira comunhão deixava de fora dos campeonatos. Quando aparecia já estava no final da competição.

A minha amiga Lucineide era agradecida pelo filho ter aprendido a jogar xadrez. Me disse das melhorias que ocorria na vida difícil do filho, que sempre precisou de ter pulso para cria-lo, conter o comportamento e enfrentar os problemas na escola com os colegas e com as notas.

Mas, muita coisa mudou. Continuou dando trabalho para a mãe que conseguia resolver as coisas na conversa, acabaram as brigas e as notas escolares eram muito melhores e isso enchia a mãe de esperanças.

Hoje o garoto Arllyn estuda relações internacionais e vi pelo "facebook" algumas fotos ao lado de embaixadores brasileiros, integra a diretoria do Clube Rotary, um homem digno e de caráter, vai indo muito bem, é outra pessoa.

A mãe do garoto voltou a estudar e passou em um concurso público para a justiça e reside em outra cidade. Encontrei-a na mesma praça no mes de junho, depois de muito tempo. Estava feliz com a sua vida e com os estudos do filho e em agradecimento me disse que fui uma pessoa especial na vida dela e do filho.

Os flanelinhas não continuaram no projeto. Sempre que parava um carro saiam da aula. O menino ainda continua nas ruas cheirando thinner. A menina por uma conta de drogas não paga foi assassinada no ano passado na praça Duque de Caxias.

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